terça-feira, 6 de agosto de 2013

AQÜICULTURA FAMILIAR

ESTUDO SETORIAL PARA CONSOLIDAÇÃO DE UMA AQÜICULTURA SUSTENTÁVEL NO BRASIL – SUMÁRIO EXECUTIVO O objetivo deste trabalho foi realizar um diagnóstico detalhado da aqüicultura brasileira, a partir de uma análise mais ampla não restrita apenas à abordagem de temas técnicos ou político‐institucionais. Tais temas foram levantados, mas também complementados com a análise de aspectos históricos da atividade; com uma avaliação dos problemas e das soluções ambientais a ela associadas; com seu papel no desenvolvimento social do país; com uma visão das interações entre as questões econômicas e estruturais do próprio país com a sua aqüicultura; das interações entre essa mesma aqüicultura com outras cadeias produtivas; da visão que a sociedade civil organizada tem da aqüicultura e, acima de tudo, dos entraves enfrentados e das possíveis soluções para se inserir de fato a aqüicultura no rol das atividades de reconhecida importância no agronegócio brasileiro. Sumário executivo Grupo Integrado de Aqüicultura e Estudos Ambientais Página |18 BRASIL Dados Demográficos/Geográficos1 População* 180.000.000 habitantes Área 8.514.876,6 km2 Linha de costa 7.367 km Regiões climáticas Tropical (90% do território), Equatorial, SemiÁrida, Tropical de Altitude e Subtropical. Dados hidrológicos2 Águas doces superficiais 13,8 % do total mundial 34,9 % do total das Américas 56,9% do total da América do Sul Distribuição por Região Norte:.................................. 68 % Centro‐Oeste:...................... 16 % Sul:...................................... 7 % Sudeste:............................... 6 % Nordeste:............................ 3 % Reservatórios públicos e privados 8,5 milhões de hectares Produção aqüícola3 Produção pesqueira total (pesca + aqüicultura)* 1.015.916 toneladas Produção aqüícola* 269.697,50 t (total) 180.730,5 ( aqüicultura continental) 88.967 t (maricultura) Participação da aqüicultura na produção total do Brasil 26,5% Receita gerada pela atividade US$ 965.627,60 Consumo de pescados per capita estimado 5,9‐7,0 kg/habitante/ano
BRASIL EM NÚMEROS Ensino, Pesquisa e Extensão na área de aqüicultura4 : Institutos de pesquisa Número total: 89 Cursos em áreas correlatas 16 ‐ Nível Médio 42 ‐ Graduação 28 ‐ Especialização 27 ‐ Mestrado 13 ‐ Doutorado Número de entidades: 27 − 15 Empresas Públicas de Direito Privado − 5 Autarquias Estaduais − 3 Empresas Mistas − 2 Sociedades Civis de Direito Privado − 2 Administração Direta dos Estados Extensão Rural Municípios atendidos: 4.500 Logística5 : Número total: 66 Aeroportos Carga anual transportada: 1.214.613 t Ferrovias Carga anual transportada: 345.096.000 t Portos: 39 Terminais Privados: 43 Portos Carga anual transportada: 529.005.051 t Contêineres anuais: 2.280.009 Transporte rodoviário Malha rodoviária: 1.751.862 km Trechos pavimentados: 12% Trechos não‐pavimentados: 88% Condições das rodovias: ‐ Ótimo/bom: 21% ‐ Péssimo, ruim ou deficiente: 79% Cargas transportadas: 65% do total nacional Processamento/Transformação de pescados (certificados pelo Serviço de Inspeção Federal) 304 ‐ Entrepostos de pescados 38‐ Fábricas de pescado ou conserva de peixes 34 ‐ Barcos‐fábrica A PRODUÇÃO AQÜÍCOLA BRASILEIRA Por: Nádia Rita Boscardin Neste capítulo são apresentados os dados oficiais da produção aqüícola brasileira, sua inserção no contexto mundial e a forma como está sendo desenvolvida no país. Segundo esses dados, em 2004, a produção aqüícola e pesqueira brasileira alcançou, um volume de 1.015.916 toneladas o que representou um acréscimo de 2,6% em relação ao ano de 2003. A aqüicultura participou com 26,5% (269.697,50 toneladas) na produção total do Brasil, gerando US$ 965.627,60. Os principais organismos, em termos de volume, cultivados no Brasil, são os peixes (principalmente tilápia, carpas e o tambaqui), o camarão branco do Pacífico (Litopenaeus vannamei) e o mexilhão (Perna perna). Como cultivos emergentes na aqüicultura brasileira destacam‐se os peixes marinhos (basicamente bijupirá, Rachycentron canadum), as macroalgas e os cultivos de pirarucu em água doce, desde que resolvidos os problemas técnicos existentes na produção de alevinos. A região Sul liderou a produção da aqüicultura continental em 2004, com a 34%, baseada principalmente no cultivo de carpas e tilápias. Na segunda colocação, apareceu a região Nordeste, com 22%, focada no cultivo de tilápias e de tambaquis. A seguir veio a região Centro‐Oeste, com o equivalente a 18% da produção nacional, alavancada pela produção do tambacu, pacu, tilápia e tambaqui. Com uma produção de 17%, baseada na produção de tilápia, carpa, truta, tambacu e o tambaqui, a região Sudeste ficou com a quarta posição. A região Norte, por sua vez, contribuiu com 10% da aqüicultura continental, ancorada basicamente pelo cultivo do tambaqui. A produção brasileira da aqüicultura marinho‐estuarina foi de 88.967 toneladas ou o equivalente a 33% da produção nacional sendo que a região Nordeste responsável por 79,5% da produção de organismos aquáticos marinhos, representada pelos cultivos de camarões. A região Sul ficou na segunda posição, com 19%, fortemente ancorada pelo cultivo de mexilhões e ostras. A representatividade nas Regiões Sudeste e Norte foi pequena, registrando 1% e 0,3% respectivamente no total produzido pela maricultura brasileira. Dentre os sistemas de cultivo empregados, destaca‐se o uso de viveiros, geralmente manejados em regime semi‐intensivo de produção (usados nos cultivos de peixes e de camarões) e os long‐lines (empregados nos cultivos de mexilhões e ostras). A produção de peixes em tanques‐rede apresenta um enorme potencial para se desenvolver no país, desde que sejam desatados os nós burocráticos e legais para legalização do direito ao uso de espaços da União para fins de aqüicultura. PRINCIPAIS SISTEMAS PRODUTIVOS EMPREGADOS COMERCIALMENTE Por José Roberto Borghetti e Ubiratã Assis Teixeira da Silva A aqüicultura brasileira é baseada em regimes semi‐intensivos de produção e, com exceção do setor da carcinicultura, a produção é sustentada principalmente por pequenos produtores. Como exemplo, enquadram‐se os cultivos de camarões marinhos, que empregam uma tecnologia relativamente bem desenvolvida de produção,(básico) da qualidade da água. Também é desenvolvida em regime semi‐intensivo a maioria dos cultivos de peixes realizados em viveiros escavados, onde os alevinos são estocados e alimentados com ração durante todo o período de cultivo. Porém, há casos bem sucedidos em que a produção é realizada em regime extensivo. Nesse caso enquadram‐se os cultivos de peixes realizados por pequenos produtores da região Sul, especialmente em Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em tais cultivos raramente se usam rações comerciais e os peixes são alimentados, tradicionalmente, com subprodutos agrícolas ou dejetos animais. Também podem ser considerados regimes extensivos de produção os sistemas que envolvem o povoamento de grandes reservatórios de água, notadamente na Região Nordeste. A malacocultura utiliza espécies filtradoras (ostras e mexilhões); há pouca tecnificação e os cultivos são realizados em áreas costeiras abrigadas, sendo comuns os conflitos de uso com outras atividades econômicas. Tais características permitem classificar essa atividade também como um regime extensivo de produção. O capítulo ainda aborda os principais sistemas empregados na aqüicultura e aspectos históricos e técnicos relativos às espécies responsáveis pela maior parte da produção aqüícola nacional (de peixes, rãs, camarões de água doce, camarões marinhos, ostras e de mexilhões). O PAPEL DO PODER PÚBLICO NO DESENVOLVIMENTO DA AQÜICULTURA BRASILEIRA Por: Walter Antonio Boeger e José Roberto Borghetti Este capítulo começa apresentando um histórico da aqüicultura, indicando, principalmente a forma como a atividade foi se inserindo no contexto econômico do país e na estrutura administrativa do Estado. Nele é apresentado um panorama que se estende desde os primeiros cultivos de peixes, realizados em sistema extensivo durante a invasão holandesa no Nordeste no século XVIII; passando pelo início da fase comercial da aqüicultura, nos anos 1960; pela fase do "não pode", nos anos 1990, quando a aqüicultura brasileira foi fomentada pelo IBAMA, órgão de fiscalização ambiental e de repressão; pela fase de "luta" para que a aqüicultura ficasse sob a responsabilidade de uma estrutura verdadeiramente de fomento à produção e chegando até os dias atuais, com a criação da SEAP. Em seguida, é apresentado o arcabouço institucional atual em que a aqüicultura está inserida, bem como os principais órgãos e instituições com os quais se relaciona diretamente (SEAP/PR, IBAMA, sp.U, ANA e Ministério da Marinha). Por fim, são apresentados os marcos regulatórios da atividade, bem como os principais programas institucionais atualmente em execução e que apresentam potencial para o desenvolvimento da atividade no país (Programa de Parques Aqüícolas, bem como o processo de Cessão de Águas de Domínio da União para Fins de Aqüicultura, o Programa Nacional de Controle Higiênico e Sanitário de Moluscos Bivalves, os Planos Locais de Desenvolvimento da Maricultura, o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, o Programa de Áreas Protegidas Marinhas de envolvendo: o uso de viveiros‐berçário, de ração comercial, de aeradores e controleORGANIZAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO DO SETOR PARA O DESENVOLVIMENTO DA AQÜICULTURA Por: Débora Pestana, Márcio Roberto Pie e Robert Willian Pilchowski Neste capítulo são inicialmente apresentadas definições sobre termos fundamentais para a compreensão da estrutura da aqüicultura brasileira como: Aqüicultura Comercial ‐ aquela que visa a geração de renda financeira através da produção de plantas e animais que são demandados no mercado; Aqüicultura de Subsistência ‐ aquela cuja produção não atinge escala de produção comercial, evidenciando a produção destinada ao sustento familiar; Aqüicultura Familiar ‐ uma forma de produção onde predomina a interação entre a gestão e o trabalho. É estabelecimento integrante da agricultura familiar aquele dirigido pelo próprio produtor rural e que utiliza mais a mão‐de‐obra familiar que a contratada; Aqüicultura Industrial – que pressupõe a associação a regimes mais intensivos de produção e, concomitantemente, a existência de uma cadeia produtiva bem estruturada. A seguir, abordam‐se temas sobre a estrutura de apoio à aqüicultura existente no país. Inicia‐se com a estrutura oficial de assistência técnica e extensão rural existente e que envolve 27 entidades estaduais, sendo 15 empresas públicas de direito privado, cinco autarquias estaduais, três empresas públicas por ações, duas sociedades civis de direito privado, duas de administração direta dos estados. A extensão rural conta ainda com 19,5 mil empregados, 12,5 mil técnicos, 260 escritórios regionais, 4.240 escritórios locais, 4.500 municípios atendidos, 37 mil comunidades assistidas, 1,3 milhão de produtores assistidos. A ênfase no tema "Organizações Comunitárias" é dada à estrutura, à importância e às implicações legais de organizar os produtores em associações e cooperativas. Há, no entanto, uma nítida carência de representatividade do setor produtivo em tais associações. Em relação à aqüicultura, a despeito da crise por que passa a carcinicultura nacional, com reflexos financeiros evidentes na própria Associação Brasileira de Criadores de Camarão, ela se mantém como a principal entidade privada representativa do setor aqüícola nacional. Também não é característica da aqüicultura brasileira a presença de grandes cooperativas aqüícolas. A maioria delas é de pequeno porte e apresenta atuação regional. No tópico sobre linhas e programas de crédito para investimento e custeio de atividades aqüícolas é mostrado que, ao menos no papel, existem meios de se obter financiamento para as atividades aqüícolas. Como foi discutido em capítulos posteriores, o problema é que a obtenção do crédito é um processo extremamente burocrático e caro. Segurança alimentar é outro ponto‐chave para a sustentabilidade da aqüicultura nacional. O problema é que o Brasil está apenas ingressando na fase de profissionalismo da aqüicultura. Contratos formais entre produtores e comerciantes ou entre produtores e indústrias processadoras ainda são raros. Por isso, antes de se falar em preocupações com a segurança alimentar, os aqüicultores brasileiros – especialmente, mas não exclusivamente, os aqüicultores familiares ‐ terão que se familiarizar com prazos de entrega, quantidades, condições do transporte e conservação do pescado, tamanho e uniformidade, coloração, ausência de offflavor, coloração da carne ou pele, entre outros critérios. Esses são aspectos fundamentais para se garantir a segurança dos alimentos produzidos e comercializados. O mesmo vale para a aplicação dos princípios da APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle, ou HACCP, em inglês), que consiste em uma série de etapas inter‐relacionadas, que independem do processo industrial para o qual é adotado, o que permite a sua aplicação nos diversos segmentos do setor alimentício, como é o caso dos pescados, em todas as fases do processo, desde a produção primária até a comercialização. A aqüicultura brasileira começa a despertar para a necessidade de implantação de tais sistemas de qualidade. No tópico "impactos sociais da aqüicultura e seu papel na geração de emprego e renda" é mostrado que a aqüicultura brasileira tem um imenso papel na fixação do homem nas zonas rurais e litorâneas e, mais do que gerar empregos, ela tem um papel muito importante na geração de renda em escala familiar. Portanto, a atividade não deve ser avaliada apenas com base na sua importância econômica, mas principalmente pela sua importância social. PRINCIPAIS PROBLEMAS ENFRENTADOS ATUALMENTE PELA AQÜICULTURA BRASILEIRA Por Antonio Ostrensky e Walter Antonio Boeger Este é um capítulo essencial para a estruturação do trabalho: identificar os problemas que afetam os diferentes setores da cadeia produtiva da aqüicultura nacional. As duas metodologias utilizadas na execução do trabalho foram justamente seu diferencial. A primeira, através do envio de questionários a cerca de 800 pessoas que representam os diversos setores da aqüicultura nacional (destes, 56 ou 7% do total, responderam). A segunda foi pela avaliação das mensagens trocadas entre os participantes da lista de discussão da Revista Panorama da Aqüicultura (Panorama‐ L). Essa é a principal revista brasileira relacionada à aqüicultura e disponibiliza aos interessados pela atividade ‐ não só para os assinantes da revista, mas também ao público em geral ‐ um espaço virtual, livre, aberto e gratuito, para que se possa discutir, trocar informações, tentar encontrar soluções para os problemas enfrentados pelas pessoas e empresas que militam no setor. Os participantes da lista representam praticamente todos os elos da cadeia produtiva da aqüicultura nacional, desde fornecedores de insumos, serviços e equipamentos, passando por representantes do setor público, instituições de ensino, processadoras e comerciantes. Essa pluralidade de participantes é o que confere especial interesse às discussões travadas nesse fórum. Com base nas metodologias aqui utilizadas, foi possível apontar os três maiores problemas que afetam o setor aqüícola brasileiro: ‐ Problema técnico‐gerencial: falta de treinamento e qualificação técnica na cadeia produtiva da aqüicultura; ‐ Problema econômico/administrativo: dificuldade de acesso ao crédito para investimento e custeio em aqüicultura; ‐ Problema político‐administrativo: falta de políticas públicas consistentes para o desenvolvimento da atividade. Neste capítulo foram ainda tratados de temas que afetam diretamente a viabilidade e a sustentabilidade da aqüicultura brasileira, tais como: problemas de logística, corrupção, carga tributária excessiva, dificuldades de acesso ao crédito, bem como os marcos legais da atividade.POTENCIAL PARA O DESENVOLVIMENTO DA AQÜICULTURA NO BRASIL Por Antonio Ostrensky, Walter Antonio Boeger e Marcelo Chammas O setor primário de produção de pescados (pesca + aqüicultura) representa quase 0,4% do PIB. Contudo, se considerada toda a cadeia produtiva de pescados, englobando desde a produção de rações e embalagens até o transporte e o processamento, entre outros, a contribuição do setor salta para cerca de 2% do PIB (SEAP, 2005). Se a possibilidade de expansão em patamares verdadeiramente sustentáveis da atividade pesqueira é bastante duvidosa, o mesmo não se pode dizer da aqüicultura, cujo potencial de expansão é seguramente promissor. Dentre todos os fatores positivos, que podem ser explorados para o desenvolvimento da aqüicultura brasileira, nenhum é mais importante que as enormes potencialidades naturais. O Brasil possui 7.367 km de costa; 3,5 milhões de hectares em águas públicas represadas; 5 milhões de hectares em águas privadas represadas; apresenta clima preponderantemente tropical; é autosuficiente na produção de grãos; concentra cerca de 12% da água doce disponível no planeta; apresenta abundância de água doce em praticamente todas as suas regiões. Por outro lado, os números também recomendam que se tome a devida cautela, para se conter eventuais excessos de otimismo. O fato da maior concentração de recursos aquáticos esta concentrada na região Norte e Centro‐Oeste, onde a densidade populacional é menor, implica em uma infra‐estrutura deficiente para comércio e transporte dos produtos aqüícolas. Além disso, na região Norte há uma significativa concorrência com a pesca extrativa. Portanto, mesmo em relação às suas potencialidades há desafios a serem superados para o desenvolvimento da aqüicultura. O Brasil também possui um imenso contingente de pequenas propriedades rurais e de produtores que diversificam os produtos cultivados para diluir custos, aumentar a renda e aproveitar as oportunidades de oferta ambiental e disponibilidade de mão‐de‐obra. Por ser diversificada, a agricultura familiar traz benefícios agro‐socioeconômicos e ambientais. E é justamente essa possibilidade de utilização da aqüicultura por produtores familiares, associada à grande disponibilidade de recursos naturais do Brasil, que permitem afirmar que há uma imensa disponibilidade de mão‐de‐obra (ainda que não qualificada) para o desenvolvimento da atividade no país. Outra vantagem comparativa do país é a grande disponibilidade de estruturas qualificadas para a capacitação de pessoal e realização de pesquisa e desenvolvimento. Atualmente existem 89 instituições de pesquisa envolvidas com a aqüicultura no país. Essas instituições oferecem 16 cursos de nível médio, 42 cursos de graduação, 28 cursos de especialização, 27 cursos de mestrado e 13 programas de doutorado no setor. Além disso, temos indústrias instaladas fornecendo serviços, equipamentos, e insumos para a aqüicultura; uma estrutura relativamente adequada de produção de formas jovens (larvas, pós, larvas, alevinos e juvenis) dos principais organismos aquáticos cultivados. Por outro lado, a indústria de processamento e transformação de produtos aqüícolas apenas dá seus primeiros passos. A maioria delas tem menos de 1 ano de existência.Por fim, temos no país um universo de 185 milhões de consumidores em potencial, o que gera uma demanda anual da ordem 1,1 milhão de toneladas de produtos de origem aquática. Ora, se a produção aqüícola brasileira em 2004 foi de aproximadamente 270.000 toneladas, segundo os dados oficiais, já há uma demanda de mercado no país, cerca de quatro vezes maior que a produção aqüícola atual. É preciso agora que haja uma profissionalização da cadeia produtiva da aqüicultura para conquistar esse mercado. AQÜICULTURA, SEGURANÇA ALIMENTAR, SANIDADE E MEIO AMBIENTE Por: Gisela Geraldine Castilho, Leandro Ângelo Pereira e Márcio Roberto Pie O termo "ambientalmente sustentável" tem predominado nos debates sobre aqüicultura, apesar de tais debates ainda não terem gerado medidas práticas de grande amplitude. Pelo menos no Brasil, estudos sobre sustentabilidade ainda estão voltados exclusivamente para os aspectos ambientais da produção. Os aspectos sócio‐econômicos, por exemplo, são pouco conhecidos e pouco estudados. A proposta deste capítulo é justamente fazer um apanhado desses temas, analisando de que forma eles afetam a aqüicultura brasileira atualmente. A carcinicultura é uma atividade que vem sendo tratada como a grande vilã do meio ambiente no país. Talvez nenhuma outra atividade produtiva da economia brasileira venha recebendo tamanhas críticas quanto os empreendimentos de cultivo de camarões marinhos. O que se observa é que o ódio de setores organizados da sociedade destilado contra a aqüicultura é diretamente proporcional ao tamanho dos empreendimentos, o que leva a supor – sem prejuízo às reais responsabilidades que o setor tem – que há, sim, um forte componente político/ideológico nas críticas que a atividade recebe. Grandes empreendimentos de carcinicultura são alvos de críticas pesadas. O imenso somatório de pequenos empreendimentos de piscicultura espalhados por todo o país e os pequenos e ainda pouco numerosos empreendimentos de malacocultura, têm sido poupados de maiores críticas. Por enquanto... A perspectiva é que com a instalação de grandes empreendimentos em águas públicas, o tom das críticas suba. Por isso, mais uma vez, a saída para o setor passa pela profissionalização. A aqüicultura depende da existência de um ambiente estável e equilibrado para sua própria sustentabilidade. Desequilíbrios ambientais são a porta de entrada da instalação de epizootias em qualquer atividade agropecuária. Por isso, a aqüicultura depende fundamentalmente da existência de água de boa qualidade. Assim, a preocupação com as questões ambientais deve partir do próprio setor aqüícola. Talvez, a forma mais efetiva de se trabalhar essa questão seja através de uma prática comum no mercado aqüícola internacional e também em outras cadeias produtivas nacionais: o incentivo à adoção de práticas para melhorar o manejo dos sistemas de produção aqüícolas, ao invés de se impor limites quanto aos parâmetros físico‐químicos para a qualidade de água. Exemplo disso é o "Rótulo Verde" ou ISO 14.000. A proposta é que os aqüicultores possam conduzir suas atividades de maneira ecologicamente correta e que assegure a obtenção de um certificado de qualidade ambiental. Tal certificado pode significar uma maior aceitação dos produtos de origem aquática nos mercados nacional e internacional. O fato é que a questão ambiental na aqüicultura ainda está muito longe de ser tratada de forma séria e correta por cada um dos atores envolvidos, sejam eles produtores, órgãos oficiais de fomento, de fiscalização ambiental e de organizações não governamentais. O risco desse descontrole é que o desenvolvimento da aqüicultura passe a depender fundamentalmente de fatores políticos e ideológicos, enquanto os fatores técnicos ou econômicos acabem relegados a um plano inferior.ASPECTOS DA VIABILIDADE ECONÔMICA DA AQÜICULTURA EM PEQUENA E MÉDIA ESCALA Por: Débora Pestana e Antonio Ostrensky Uma das fantasias que se tem em relação à aqüicultura é que seria possível viabilizar toda a atividade apenas com base no incremento da oferta. Por isso, não raro, os programas de fomento à aqüicultura tratam quase que exclusivamente de ações voltadas ao aumento da oferta, preocupando‐se nada, ou quase nada, com questões vinculadas à demanda, tais como: qualidade e padronização dos produtos, regularidade na sua oferta e preços. Outra ilusão é de que basta que um produto seja produzido por pessoas de baixa renda ou por comunidades tradicionais para que ele passe a ter um forte apelo social. Idéia completamente falsa! O conceito de ambientalmente sustentável e socialmente justo, bem como o apelo de haver geração de emprego e renda para as comunidades mais necessitadas, só podem ser considerados se não estiverem dissociados da realidade do mercado de alimentos, onde fatores como preço baixo, qualidade alta, regularidade de oferta e marketing são elementos básicos para o sucesso de qualquer iniciativa. Neste capítulo são apresentados exemplos e estudo de casos que mostram como o consumo e outras questões vinculadas ao mercado afetam a viabilidade da aqüicultura. Mostra como é complexo e árduo o trabalho para a viabilização da aqüicultura desenvolvida em pequena e média escala no país. O ingresso de pescado no mercado nacional se dá tanto pela produção interna, via pesca e aqüicultura, quanto pela importação de pescados, totalizando 1.174.575 t em 2004. Como parte da produção nacional é exportada, o saldo (positivo) da quantidade de pescado que permanece no mercado nacional chega a 1.067.558 t. Como em 2004 a população brasileira era de 181.586.030 habitantes, a divisão do valor citado anteriormente pelo número de habitantes gera um consumo per capita de apenas 5,9 kg/hab/ano. Dados do IBGE apontam para um valor também muito próximo a esse, no caso de 7,0 kg/hab/ano. Esses números ainda são muito modestos, de forma que a expansão da base produtiva nacional passa também do aumento do consumo per capita de pescados. A viabilidade econômica do setor aqüícola, por sua vez, envolve a manutenção dos mercados já conquistados e a abertura de novos mercados. No texto, são analisados temas como a interação entre pesca e aqüicultura, a venda de matériaprima para pesque‐pague, a venda em centros atacadistas, a industrialização e a exportação. O marketing institucional tem como objetivo trabalhar a identidade, a formação e a consolidação da imagem de um programa, de um projeto ou de todo um setor, no caso aqui tratado, o da aqüicultura. A história recente mostra que o marketinginstitucional é, cada vez mais, uma ferramenta importante para o desenvolvimento setorial. Por outro lado, sem instituições fortes não há como se trabalhar adequadamente ações de marketing "institucional". As instituições brasileiras da área de aqüicultura, sejam elas governamentais ‐ como é o caso da própria SEAP ‐, ou privadas – como é o caso da ABCC ou das empresas do setor produtivo, de processamento ou comercialização ‐ precisam, antes de mais nada, conseguir se estruturar e agregar em torno de si as marcas, pessoas, setores e instituições a que se propõe e representar. Jamais teremos uma aqüicultura forte no país sem a existência de instituições fortes. REFLEXÕES SOBRE AS BASES TÉCNICAS E CONCEITUAIS PARA O DESENVOLVIMENTO DA AQÜICULTURA NO BRASIL Por: Marcelo Acácio Chammas O desafio neste capítulo é o de suscitar reflexões, discussões e apresentar propostas de baixo custo e alto impacto para enfrentar os problemas identificados. Para facilitar a compreensão, os problemas e propostas apresentados foram aglutinados em três grandes blocos: licenciamento ambiental, a questão da qualidade e o enfoque específico nas cadeias produtivas. Com relação ao licenciamento, conclui‐se que o impasse entre os pró‐aquicultura e seus contrários há muito já esgotou o limite do bom senso. De ambas as partes costuma prevalecer uma visão míope e o uso, por vezes mal intencionado, de meias‐verdades. Para que seja possível avançar, há que se partir de um ponto concreto e inquestionável: a existência de bons e maus empreendimentos em todos os setores da economia. Para avançarmos é preciso admitir que não existem soluções mágicas e nem soluções de atacado. O processo de licenciamento deve ser suficientemente eficiente para, ao mesmo tempo, cumprir o seu papel na manutenção do equilíbrio ambiental, sem penalizar toda a atividade. Qualidade e produtividade, por sua vez, são fatores‐chave para a competitividade de qualquer cadeia produtiva, não sendo diferente na aqüicultura. Para que a atividade conquiste maiores e melhores mercados, é imprescindível que ela tenha diferenciais competitivos (custos reduzidos, produtos característicos, produção padronizada, ofertas regulares, etc.) e que ofereça ao consumidor o máximo de garantias (selos, certificações, rastreabilidade, licenças, etc.). Ademais, também é fundamental que ela se consolide como atividade sustentável e usuária racional de recursos naturais e divulgue bem essa imagem. Já em relação às cadeias produtivas, o trabalho de apontar e propor alternativas para superação dos principais pontos críticos da aqüicultura brasileira não se encerrará, nem mesmo após a desobstrução dos gargalos destacados neste trabalho. Pois, no momento em que estes forem superados, novos estarão se evidenciando ou surgindo e conseqüentemente o processo deverá ser retomado. É essa necessidade de aprimoramento com base na realidade nua e crua dos fatos que impõe a evolução como única forma de sobrevivência da aqüicultura.
PROPOSTAS ESTRUTURAIS E EXECUTIVAS PARA CONSOLIDAÇÃO DA AQÜICULTURA BRASILEIRA Por: Antonio Ostrensky Neste último capítulo, o objetivo é apontar caminhos que possam contribuir para a sua resolução. Mas, esta está longe de ser uma tarefa fácil. Aliás, propor soluções, sugerir mudanças, opinar, tudo isso é, sim, relativamente simples. Difícil é propor soluções realmente transformadoras da realidade. Por exemplo, se o problema é do tipo "falta de investimentos em...", a solução natural seria propor "investir em...". Isso seria o óbvio, mas geraria outro problema: "investir com que recursos?" "Soluções para problemas" e "recursos financeiros" são quase sempre fatores indissociáveis. Contudo, no mundo real os recursos financeiros costumam ser bastante escassos. Por isso, nas recomendações sobre os caminhos a se seguir é dada prioridade às ações que visem otimizar a aplicação dos recursos, valorizando, sempre que possível, aquelas de caráter administrativo e gerencial. Por fim, as ações principais sugeridas são aquelas de caráter público, que cabem ao Estado, em detrimento das ações que caberiam apenas à iniciativa privada. Também se evita a sugestão de ações que possam ter caráter paternalista, por entender que tais atitudes não são função do Estado. Foram dadas sugestões sobre formas de se enfrentar aqueles que foram considerados os 10 mais importantes problemas que afetam a aqüicultura brasileira: 1. Falta de políticas públicas para o desenvolvimento e consolidação da atividade. 2. Falta de treinamento e qualificação técnica ao longo de toda a cadeia produtiva da aqüicultura. 3. Dificuldade de acesso ao crédito para investimento e custeio na aqüicultura. 4. Necessidade de aumento da competitividade da aqüicultura em pequena e média escala. 5. Necessidade de viabilização, em escala industrial, do processamento dos produtos derivados da aqüicultura. 6. Necessidade de criação um sistema nacional de controle da sanidade aqüícola. 7. Necessidade de conquista de novos mercados e consumidores. 8. Necessidade de agilização da regularização ambiental dos empreendimentos, em especial em águas de domínio da União. 9. Necessidade de levantamento e divulgação de informações setoriais básicas. 10. Necessidade de fomento ao associativismo e ao cooperativismo.11. Necessidade de desenvolvimento, validação e replicação de modelos sustentáveis de produção adaptados às diferentes espécies e regiões do país.

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