sexta-feira, 25 de maio de 2012

FECHAMENTO ILEGAL DA PONTE ESTAIADA AFETA QUEM PAGOU POR ELA.

Acordo entre prefeitura e UFRJ reabre a Ponte do Saber durante as manhãs

Após reunião, Paes garantiu que a via só será fechada à noite


Motoristas tentaram acessar a Ponte do Saber nesta quinta-feira, mas via continou interditada
Foto: Paulo Nicolella / O Globo
Motoristas tentaram acessar a Ponte do Saber nesta quinta-feira, mas via continou interditada Paulo Nicolella / O Globo
RIO - Após dois dias de engarrafamentos e muita polêmica, foi selada nesta quinta-feira a paz entre a prefeitura e a UFRJ. Um acordo permitiu, a partir desta sexta-feira, a abertura da Ponte do Saber, que liga a Cidade Universitária, no Fundão, à Linha Vermelha, no mesmo horário em que ela funcionava desde a sua inauguração, em fevereiro — das 5h30m às 23h. Nos dois últimos dias, a UFRJ passara a abrir a via apenas a partir do meio-dia. Durante uma reunião entre representantes da CET-Rio e da universidade, foram anunciadas medidas para aumentar a segurança do campus, que incluem o mapeamento das áreas de risco de acidentes, iluminação especial e implantação de lombadas eletrônicas num prazo de 30 dias, entre outras mudanças.
Na manhã desta quinta-feira, porém, houve muita confusão. A ponte fechou pelo segundo dia consecutivo, o que provocou protestos dos motoristas que, tentando fugir dos engarrafamentos na Linha Vermelha, eram obrigados a retornar e enfrentar o tráfego lento. Até uma ambulância dos bombeiros, que ia prestar atendimento de emergência, foi impedida de passar (o acesso estava fechado por uma corrente com cadeado). O motorista, então, retornou ao Fundão. Seguranças da UFRJ disseram que não tinham a chave do cadeado para liberar a via.
Paes arrebenta cadeado da ponte
A decisão de impedir o tráfego entre 23h e 12h na Ponte do Saber, tomada pela prefeitura da UFRJ para dar mais segurança ao campus, afetou a rotina dos motoristas que, desde fevereiro, estavam habituados a fugir do trânsito pesado na Linha Vermelha cortando caminho pelo Fundão. A medida irritou o prefeito Eduardo Paes, que, pelo Twitter, a classificou como “patética, autoritária e ridícula”.
Paes acrescentou que algo assim “jamais poderia acontecer em uma universidade pública” e que “nada justifica o fechamento de um bem público, pago com recursos públicos”. Depois de participar do lançamento da pedra fundamental do Centro de Pesquisas Global da GE, no Fundão, o prefeito, ao chegar ao ponto de bloqueio, desceu do veículo, arrebentou o cadeado e passou pela ponte.
— A Ponte do Saber foi feita como medida compensatória (por causa de atividades da Petrobras no Fundão). Portanto, é uma ponte que pertence à cidade. É pública. É inaceitável que permaneça fechada — afirmou Paes.
Segundo ele, caso a UFRJ não atendesse ao pedido da prefeitura, o fechamento da ponte seria entendido como uma ilegalidade:
— Ele (o prefeito do campus) não pode impedir o direito de ir e vir numa via pública porque é crime. Será assim que vamos tratar o assunto se essa brincadeira continuar.
O prefeito do campus, Ivan Carmo, disse na manhã de ontem que o fechamento era para proteger o campus. Ele defende a presença de um efetivo maior de PMs, além de agentes de trânsito, e a instalação de radares nas vias do campus.
O comandante do 17 BPM (Ilha), Ezequiel Mendonça, também defendia o fechamento da ponte até as 12h:
— Uma vez aberto para o público em geral, o campus universitário precisa de maior efetivo de segurança.
Outra queixa da UFRJ são os motoristas que dirigem em alta velocidade no campus. No convênio firmado nesta quinta-feira também ficou decidida a implantação do Projeto Área Urbana de Redução de Acidentes, que prevê placas educativas e iluminação nas faixas de travessia de pedestres, entre outras medidas. Funcionários da universidade serão treinados pela CET-Rio, e caberá à prefeitura da UFRJ a instalação de rampas elevadas para forçar os veículos a reduzirem a velocidade nas faixas de pedestres. Enquanto as medidas estiverem em fase de implantação, a CET-Rio será responsável pelo monitoramento do trânsito.
Motoristas reclamaram da falta de sinalização. Morador da Ilha, Frederico Gurgel tentou usar a ponte de manhã, mas precisou retornar:
— Essa ponte não é uma propriedade particular. Ela está numa área federal que é usada pela comunidade. Essa decisão é um absurdo.
Defensoria ameaçou entrar com ação contra UFRJ
Nesta quinta-feira, o defensor público federal Daniel Macedo, titular do 2º Ofício de Direitos Humanos e Tutela Coletiva, afirmou que caso a UFRJ mantivesse a decisão de fechar a ponte, ele iria entrar com uma ação civil pública contra a instituição.
— Manter a ponte fechada é uma completa inversão de valores. A melhor conduta é que se melhore o esquema de segurança sem impedir o direito de ir e vir das pessoas. A ponte é para o benefício da coletividade — disse o defensor, lembrando que a via está situada em uma área federal.
CET-RIO diz que medida da UFRJ foi unilateral
Durante a manhã desta quinta-feira, a CET-Rio chegou a informar, por meio de nota, que não iriar se reunir com representantes da UFRJ, como estava previsto. No entanto, no início da tarde, a assessoria de imprensa do órgão confirmou a realização do encontro. Também em nota, a companhia reiterou que o fechamento da saída sul do Fundão para a Ponte do Saber foi uma medida tomada unilateralmente pela universidade e que estudava, junto a seu departamento jurídico e à Procuradoria Geral do Município, medidas cabíveis para garantir o direito de ir e vir dos motoristas.
A Ponte do Saber foi fechada pela manhã pelo segundo dia consecutivo. A decisão, tomada pela prefeitura da UFRJ, afeta os motoristas que, desde fevereiro, estavam habituados a fugir do tráfego caótico da via expressa cortando caminho pela ponte estaiada. O tráfego da Linha Vermelha no sentido Centro ficou congestionado pela manhã. A pista foi liberada às 11h58m.
Nos acessos à ponte, dentro do campus do Fundão, o trânsito seguiu sem problemas. Duas viaturas da Polícia Militar ficaram no acesso à via, e um funcionário da CET-Rio orientou os motoristas que não sabiam da interdição. O militar Ronaldo Siciliano, de 77 anos, saiu cedo da Ilha do Governador para chegar a um compromisso no Caju, mas por volta das 9h foi surpreendido pelo fechamento da ponte. Os motoristas reclamaram que não há sinalização informando sobre a mudança no trânsito.
— A Linha Vermelha e a Avenida Brasil estão engarrafadas. Dei a volta até aqui, achando que poderia passar, mas a ponte está fechada. Não vi placas pelo caminho informando sobre a decisão — reclamou o militar.
Nesta quarta-feira, quem tentou passar pela ponte durante a manhã precisou dar meia-volta: o acesso foi bloqueado por cones. A determinação da prefeitura universitária deu um verdadeiro nó no trânsito da região até as 10h. A decisão, que vale por tempo indeterminado, foi tomada pela UFRJ, em conjunto com o comando da Polícia Militar, por três motivos: para dar mais segurança ao campus e por causa da greve dos servidores federais e das obras do BRT Transcarioca (ligação entre o Aeroporto Internacional Tom Jobim e a Barra da Tijuca, que terá duas estações na região).
Desde sua inauguração, a ponte virou um alívio para os motoristas na hora do rush: a via servia de atalho para fugir dos congestionamentos não só na Linha Vermelha, como na Avenida Brigadeiro Trompowski, no trecho entre o Fundão e a Avenida Brasil. Segundo o prefeito da cidade universitária, Ivan Carmo, o fator mais importante na decisão foi a onda de sequestros-relâmpago nos últimos dias e o excesso de velocidade no campus, com veículos trafegando “a 120km/h, 130 km/h”. Nesta quarta, a CET-Rio divulgou nota repudiando a decisão e pedindo a liberação da ponte. A prefeitura da UFRJ, porém, não recuou. Ivan participará de uma reunião nesta quinta-feira com a CET-Rio para ouvir propostas do órgão.
— Tomamos a decisão após o último sequestro-relâmpago, no dia 16. Discutimos as intervenções com a PM e a CET-Rio. Já imaginávamos os impactos negativos no trânsito, mas o campus, ao mesmo tempo em que se transforma em atalho, virou um local inseguro para os alunos. Os carros passam com excesso de velocidade. Além disso, sabemos, pelo depoimento das vítimas de sequestro-relâmpago, que a rota mais utilizada pelos criminosos é a que conduz à Linha Vermelha — disse Ivan.
UFRJ diz que houve falha da CET-Rio
Pela estimativa da UFRJ, a ponte, que fecha às 23h, vinha recebendo cerca de 2.400 veículos por dia hora — a maioria fugindo dos engarrafamentos na Linha Vermelha. E o maior fluxo de alunos deixando o campus, em torno de 80%, é registrado só a partir da tarde. Na avaliação do prefeito do campus, a CET-Rio falhou ao não organizar um esquema para auxiliar os motoristas na manhã de ontem. Ivan disse que a universidade divulgou, na imprensa e em panfletos entregues a motoristas, as alterações nos horários de funcionamento dos portões do campus:
— Caberia à prefeitura informar aos moradores da Ilha do Governador, na minha opinião os mais prejudicados. Não podemos espalhar folders pela cidade. A prefeitura foi omissa.
Para a UFRJ, a única forma de o horário da ponte ser normalizado seria a presença de um efetivo maior de PMs e agentes de trânsito no campus, além da instalação de radares.
— O volume de circulação de veículos que surgiu a reboque da ponte requer um maior efetivo de segurança pública, o que não é atribuição da universidade. Já solicitamos à prefeitura redutores de velocidade, que chegarão em breve, mas queremos também radares. Já tivemos alunos atropelados — acrescentou Ivan.
O comandante do 17 BPM (Ilha), Ezequiel Mendonça, disse que foram estudadas, numa reunião com a prefeitura da UFRJ, propostas para minimizar a insegurança no campus:
— Muitas pessoas utilizam o campus como via de acesso. Mas ali é uma área universitária, e as pessoas precisam ter consciência disso. Chegou-se ao consenso de que restringir aquele acesso seria mais viável em questão de segurança. Já estamos com um efetivo maior lá dentro, com oito viaturas. Mas isso não é suficiente.
Apesar de a universidade dizer que funcionários e estudantes foram informados, também houve alunos apanhados de surpresa.
— Que absurdo! Tenho estágio no Centro. Vou ter que dar uma volta enorme e chegarei atrasada — protestou a universitária Joana Muzy.
Em nota, a CET-Rio informou que decisão foi tomada pela UFRJ, em conjunto com a PM, porém sem qualquer documentação enviada ao município, o que causou surpresa. O órgão disse ainda que, ao saber informalmente sobre o fechamento, foi contra. A CET-Rio alegou que não pôde intervir por ser uma área federal.

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