terça-feira, 10 de julho de 2012

ADEUS À DOM EUGENIO SALES


Velório de dom Eugenio Sales se estenderá pela madrugada na Catedral Metropolitana

Fiéis têm até as 15h desta quarta-feira para prestar últimas homenagens ao cardeal

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Centenas de fiéis acompanham velório de dom Eugenio Sales
Foto: Domingos Peixoto / O Globo
Centenas de fiéis acompanham velório de dom Eugenio SalesDOMINGOS PEIXOTO / O GLOBO
RIO — Ainda é grande a quantidade de pessoas que chegam para se despedir do arcebispo emérito do Rio de Janeiro, o cardeal dom Eugenio Sales, morto na noite de segunda-feira. Os fiéis têm até as 15h de quarta-feira para comparecer ao velório, que se estenderá pela madrugada na Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro. O movimento na catedral teve início às 9h, com pessoas rezando o terço e fazendo orações. O arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani Tempesta, celebrou a primeira missa de corpo presente. Ao longo do dia, foram realizadas missas de duas em duas horas. O enterro do cardeal será na própria catedral, nesta quarta-feira, às 15h.
O cortejo partiu do Cemitério de Inhaúma, onde o corpo foi embalsamado, passou pela Candelária e chegou à catedral por volta de meio-dia. Ao passar pelo tapete vermelho, o corpo do cardeal foi recebido com aplausos, acompanhados do Hino Nacional, tocado pela banda da Polícia Militar. Uma pomba branca foi solta por um integrante da Cruz Vermelha, em homenagem ao cardeal, e pousou sobre o caixão. A ave permaneceu no santuário até as 18h.
Em nota, a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lamentou a morte de dom Eugenio. Dom Orani voltou a enfatizar dois aspectos que marcaram muito o trabalho social do arcebispo emérito: o apoio às comunidades carentes e aos refugiados políticos.
— Ele defendeu os direitos humanos. A cada época, ele viveu o seu tempo, buscou soluções para a ditadura e para as questões sociais. Foi um dos brasileiros com mais influência no governo central da igreja.
Em uma das missas celebradas na catedral, o bispo auxiliar da Arquidiocese do Rio dom Antônio Augusto Dias Duarte ressaltou a importância de dom Eugênio não só como um personagem fundamental da Igreja, um governante, mas como um ser humano que viveu toda a sua vida pensando em servir ao próximo:
— Ele foi fiel aos seus talentos, ao que Deus lhe deu. Entendeu que seus dons eram para ser usados para servir aos seus irmãos.
Dia de tristeza e de homenagens
O ator Tonico Pereira foi um dos que estiveram no início da noite na catedral. Ele lembrou de um longo período em que realizou encenações religiosas, sempre com o apoio de dom Eugenio:
— Interpretei Judas por 23 anos. O cardeal sempre nos tratou de forma profissional. Para ele, não importava, por exemplo, se um ator era de esquerda, ou comunista. O importante era a qualidade do trabalho — lembrou.
Ao chegar à catedral para o velório, o prefeito Eduardo Paes disse que hoje é um dia de tristeza e luto, mas também de homenagem a um grande homem:
— O nome de dom Eugenio se confunde com a história do Rio. Ele marcou a cidade e o Brasil com uma série de iniciativas na Igreja Católica e defendeu a liberdade e os direitos individuais.
Idosos são a maioria entre as pessoas que comparecem ao velório de dom Eugenio. Muitos demonstraram emoção ao se despedir do cardeal, como a dona de casa Rosa Maria Brás da Silva, de 68 anos, que não conteve as lágrimas:
— Igual a ele não vai existir outro. Quando eu assistia às suas missas, parecia que eu estava no céu - afirmou Rosa, que veio de Jacarepaguá para o velório.
Apoiando-se numa muleta, Edison do Nascimento Lemos, de 72 anos, foi outro que demonstrava no rosto a emoção com a despedida. Presidiário na década de 1970, ele não se esqueceu das visitas que dom Eugênio fazia no Galpão da Quinta, no Dia do Encarcerado, que é celebrado em 13 de agosto.
— Ontem, estava dormindo com a televisão ligada, quando tomei um susto com a notícia da morte dele. Era um homem muito bom — disse Edison, que veio de Realengo.
A dona de casa Maria do Socorro Chagas, de 69 anos, conhecia o cardeal há 32 anos. Ela conta que dom Eugenio influenciou a sua vida. Seu filho João Jeferson Chagas, de 29 anos, tornou-se padre e foi acompanhado pelo cardeal desde o início do sacerdócio.
— Ele é um marco na nossa vida, ordenou mais de duzentos sacerdotes, entre eles o meu filho, que hoje está na Paróquia São José Operário, na Ilha do Governador. Dom Eugenio era um homem de muita fé e brilho na Igreja Católica. A última vez que o vi foi exatamente aqui na catedral, em 2010, no aniversário de 90 anos dele. Foi a última missa que ele celebrou aqui.
Aos 21 anos, o auxiliar de produção Vinícius de Paula também admira o religioso. Assim como Maria do Socorro, Vinícius sempre foi católico e frequenta a Paróquia Nossa Senhora de Fátima, no Centro.
— Ele foi um verdadeiro apóstolo de Pedro, muito fiel à igreja. Foi um grande professor na escola da fé.
Muito emocionada, a advogada aposentada Leonor Lopes Melo, de 63 anos, fala da lembrança mais marcante que tem do cardeal:
— Em uma campanha da fraternidade, há 15 anos, ele lavou os pés de presidiários durante a missa de Lava-pés. Ele era um homem muito justo e humano. Os jovens devem aprender o senso de justiça que ele tinha e também levar o Evangelho para as pessoas que precisam.
O pároco da Catedral Metropolitana, padre Aroldo Ribeiro, enfatizou o caráter missionário do cardeal:
— Ele abriu várias frentes de trabalho que até hoje são referência, como a campanha da fraternidade. Era um líder que não media esforços para destacar a igreja e também não abria mão do papel social.
Em nota, a presidente Dilma Rousseff também lamentou a morte do cardeal. Ela ressalta que o arcebispo emérito do Rio de Janeiro “deixa seu nome inscrito na História da Igreja Católica pelo relevante papel que desempenhou em toda sua vida. Em sua trajetória, a preocupação social sempre esteve associada ao trabalho eclesiástico, como bem sintetizam as Campanhas da Fraternidade, uma de suas iniciativas, que marcam a ação da igreja em todo o Brasil. Neste momento de pesar, levo minha solidariedade ao povo do Rio de Janeiro e a todos os admiradores, familiares e amigos de dom Eugenio”.

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