segunda-feira, 2 de julho de 2012

TEMOS QUE DEVENDAR TODAS AS AÇÕES DA DITADURA


Ditadura: cooperação Brasil-Chile será investigada

Comissão da Verdade analisará documentos sobre parceria bélica entre governos militares

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Gilson Dipp: “Os arquivos serão examinados pela Comissão, a fim de recuperar a verdade histórica”
Foto: O Globo / Ailton de Freitas
Gilson Dipp: “Os arquivos serão examinados pela Comissão, a fim de recuperar a verdade histórica”O GLOBO / AILTON DE FREITAS
BRASÍLIA - O teor dos documentos confidenciais revelados neste domingo pelo GLOBO sobre o fornecimento de armamentos por parte do governo brasileiro para a repressão interna no Chile, no início dos anos 1970, surpreendeu até o presidente da Comissão da Verdade, Gilson Dipp. Segundo Dipp, que é ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), a comissão havia sido informada pelo ministro da Defesa, Celso Amorim, da existência dos arquivos, mas os membros do colegiado não acreditavam que houvesse registros tão claros e contundentes sobre a Operação Condor, a aliança político-militar entre vários regimes militares da América do Sul.
— Pensávamos que não houvesse documentos tão reveladores. Esses arquivos são de grande valia para reconstruir a história. A reportagem confirma o que já estava apontado por indícios, que houve estreita colaboração no âmbito da Operação Condor — disse o ministro. — Eles serão examinados pela Comissão, com a finalidade de recuperar a verdade histórica.
Segundo o ministro, a publicação dos documentos pelo GLOBO irá acelerar o exame dos papéis na reunião extraordinária da Comissão da Verdade, que está prevista para hoje.
Os documentos confidenciais publicados pelo GLOBO foram produzidos pelo extinto Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA) durante a ditadura militar (1964-1985) e revelam que o governo brasileiro forneceu armamentos militares ao Chile para a repressão interna no regime do general Augusto Pinochet (1973-1990).
Um acordo iniciado no governo do general Emílio Garrastazu Médici (1969-1974), e posto em prática durante os primeiros anos do governo de Ernesto Geisel (1974-1979), propiciou à ditadura chilena milhares de fuzis, espingardas, cartuchos de munição e carregadores , entre outros equipamentos bélicos que foram classificados à época como “material destinado à manutenção da ordem interna”.
Para o presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, Paulo Abrão, a reportagem é a “ponta do iceberg” para que se possam aprofundar os estudos sobre a colaboração das ditaduras latinoamericanas:
— Essas revelações são importantes porque há pouquíssima documentação no Brasil sobre esse assunto. O que se sabe hoje sobre a Operação Condor se deve aos arquivos de países vizinhos, como os Arquivos del Terror do Paraguai.
O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), integrante da comissão parlamentar Memória, Verdade e Justiça da Câmara, que realiza nesta semana um seminário sobre a Operação Condor — com a possível presença da secretária-geral adjunta da ONU, Michele Bachelet — destaca que a reportagem "desmonta a visão" que a historiografia tinha sobre o general Ernesto Geisel:
— Esses documentos desmontam a visão de que Geisel seria um propulsor da abertura democrática ou que fizesse parte de uma linha dita mais humana da ditadura. Na verdade, ele tinha uma solidariedade plena com a barbárie dos regimes ditatoriais. A colaboração dele com regimes atrozes como o de Pinochet foi rápida, imediata e segura.

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