sábado, 21 de abril de 2012

IMPUNIDADE CONTINUA SOLTA.


PMs são acusados de matar jovem inocente na Pavuna, e de estuprar e torturar mulher na Rocinha

Cristiane segura a foto do filho, Breno
Cristiane segura a foto do filho, Breno Foto: Urbano Erbiste
Carolina Heringer, Marcelo Gomes, Paolla Serra e Roberta Hoertel
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Em pouco mais de 24 horas, policiais militares se envolveram em duas tramas de tortura, agressão sexual, tiros e morte de um suposto inocente. Numa delas, ocorrida na noite de quarta-feira, policiais do Batalhão de Choque são suspeitos de estuprar e agredir uma mulher na Rocinha. Na outra, parentes de um jovem morto na Pavuna, na noite de quinta, acusam PMs do 41º BPM (Irajá) de terem matado sem motivo o rapaz.
Presa por furto, foi a própria vítima dos PMs na Rocinha quem os denunciou. A mulher, de 36 anos, contou que antes de ser levada para a delegacia foi espancada com socos, chutes e golpes de toalha molhada. Além disso, sofreu violência sexual, mas não houve penetração.
Laudo de exame de corpo de delito feito no Instituto Médico-Legal (IML) atestou que a vítima sofreu "lesão corporal e ato libidinoso diverso de conjunção carnal". A mulher continua presa na carceragem da 14ª DP (Leblon), e os PMs suspeitos ainda não foram ouvidos.
Na localidade conhecida como Campo do Falcão, próximo ao Morro do Chapadão, na Pavuna, onde morava Breno Martins, de 18 anos, o clima é de revolta. O jovem foi morto com um tiro na cabeça a poucos metros de sua casa.
A PM alega que foi ao local para checar uma denúncia, e Breno estaria vendendo drogas na região. Familiares, amigos e testemunhas contestam. Eles dizem que o jovem estava conversando com uma amiga, na porta da casa dela, quando a polícia chegou atirando. E negam que Breno tivesse envolvimento com o tráfico.
Na 22ª DP (Penha), o caso foi registrado como auto de resistência, morte resultante de confronto. Quem estava no local garante: nenhum tiro foi disparado contra os PMs.
Os PMs debocharam do nosso sofrimento, diz tia de rapaz morto na Pavuna
A última recordação que o auxiliar de serviços gerais Fernando dos Santos Marins, de 25 anos, guarda do enteado é o sorriso e a combinação de blusa preta, bermuda verde estampada e chinelo que ele usava ao sair de casa. Breno foi enterrado, na tarde desta sexta-feira, no Cemitério de Inhaúma. A família do jovem, que acusa a PM pelo crime, pretende entrar com uma ação contra o Estado e quer punição para os policiais envolvidos na ação.
— Eles (os policiais) já chegaram atirando. Mesmo que meu filho fosse bandido, ele não merecia morrer assim — emocionou-se a mãe do jovem, Cristiane Martins da Costa, de 36 anos.
De acordo Cristiane, os PMs ainda ironizaram a família e xingaram a artesã Jaqueline Martins da Costa, uma das tias da vítima.
— Eles debocharam do nosso sofrimento — acusa Jaqueline.
Segundo a família, Breno nunca teve envolvimento com o tráfico de drogas. Parou de estudar na 7ª série, no início do ano passado, para fazer bicos e complementar a renda da família. O jovem chegou a trabalhar como camelô e vendedor de hambúrguer, e iria começar como ajudante de caminhão num supermercado na Avenida Brasil, na próxima terça-feira, dizem os parentes.
— Ele era muito querido por aqui, prestativo com todo mundo. Todos estão muito abalados — contou uma amiga de Breno.
Os policiais do 41º BPM (Irajá) envolvidos na operação que terminou com a morte de Breno ficarão trabalhando em outro setor da Polícia Militar até que a investigação seja concluída. De acordo com a assessoria de imprensa da corporação, será aberta uma "averiguação" para apurar o que ocorreu naquela noite.
Sobre as investigações, a assessoria da Polícia Civil informou que a perícia no local do crime foi acompanhada pelo delegado que estava de plantão na 22ª DP (Penha). Os policiais do batalhão de Irajá foram ouvidos na delegacia na própria noite de quinta-feira.
Ainda de acordo com a Polícia Civil, os fuzis usados pelos PMs foram apreendidos e serão encaminhados para perícia. O revólver calibre 38 — que, de acordo com os PMs, foi achado com Breno — também será periciado.
Nos próximos dias, familiares e amigos de Breno, além de testemunhas, serão chamados para depor. O inquérito será transferido da 22ª DP para a 39ª DP (Pavuna), unidade que atende à região.
Família de Breno mostra a carteira e trabalho do rapaz
Família de Breno mostra a carteira e trabalho do rapaz Foto: Urbano Erbiste
Equipe do Choque acusada de crime na Rocinha tem a prisão pedida
A Polícia Civil voltou a pedir na noite desta sexta, no Plantão Judiciário, a prisão de três dos quatro PMs do Batalhão de Choque envolvidos na suposta tortura e violência sexual na Rocinha. A primeira solicitação havia sido negado pela Justiça.
Na tarde da última quarta-feira, a mulher furtou a bolsa de uma moradora da Rocinha que possui uma espécie de birosca em casa. A suspeita pediu um cafezinho teria ido embora com a bolsa da vítima, quando ela foi buscar a bebida no interior de casa.
A vítima desconfiou da mulher e, no início da noite do mesmo dia, encontrou a casa da suspeita, na Rua 2, parte alta da favela, com a ajuda dos quatro PMs do Choque. Os cinco entraram na residência e acharam a bolsa que fora furtada. A dona da bolsa, então, saiu da casa, acompanhada de um PM (que não teve a prisão pedida). Um segundo PM ficou na porta da residência.
Já os outros dois iniciaram a sessão de tortura, com socos, pontapés e golpes de toalha molhada na mulher. Ela também foi algemada e teve os braços amarrados até a altura do cotovelo. Os PMs também despiram a ladra, e a violentaram sexualmente, mas não houve conjunção carnal. Antes de levarem a mulher à 14ª DP, os PMs a ameaçaram, dizendo que se ela revelasse o que havia acontecido, eles matariam seu filho, que é excepcional.
Em nota, a Polícia Militar informou que os quatro envolvidos foram afastados das atividades operacionais até o término da investigações.


Leia mais: http://extra.globo.com/casos-de-policia/pms-sao-acusados-de-matar-jovem-inocente-na-pavuna-de-estuprar-torturar-mulher-na-rocinha-4703156.html#ixzz1sfYHx81a

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