sábado, 14 de abril de 2012

ONDE ESTÃO OS DESAPARECIDOS DO BRASIL?


Videla reconhece 8 mil mortes ditadura a na Argentina

Em entrevistas a escritor, ditador revela detalhes da ‘guerra contra a subversão’

CORRESPONDENTE
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Ex-ditador Jorge Rafael Videla (segundo da esquerda para a direita) durante julgamento por crimes contra a humanidade
Foto: Diego Lima/AFP - 21/12/2010
Ex-ditador Jorge Rafael Videla (segundo da esquerda para a direita) durante julgamento por crimes contra a humanidadeDIEGO LIMA/AFP - 21/12/2010
BUENOS AIRES — Em 1984, a Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas (Conadep) informou ao governo do então presidente Raúl Alfonsín que, durante a última ditadura militar argentina (1976-1983), haviam desaparecido 8.961 cidadãos. Os militares jamais mencionaram números e sempre evitaram falar na tragédia dos desaparecidos. Mas, após décadas de silêncio — e no aguardo do fim de mais um julgamento sobre violações dos direitos humanos cometidas em seu governo — o ex-ditador Jorge Rafael Videla, de 86 anos, decidiu falar. E admitiu, pela primeira vez, que “sete ou oito mil pessoas deviam morrer para vencer a guerra contra a subversão”.
As declarações foram dadas ao jornalista Ceferino Reato, autor do livro “Disposição Final”, lançado nesta sexta-feira na Argentina. Reato conversou por 20 horas com o ex-ditador na cela onde Videla está detido desde 2010, na prisão federal de Campo de Maio, na província de Buenos Aires, condenado à pena perpétua pela responsabilidade no fuzilamento de presos políticos na província de Córdoba.
— A ideia do livro era outra, mas quando Videla começou a falar e a dizer coisas tão impactantes, mudamos de rumo — contou Reato ao GLOBO.
Seu projeto era escrever sobre um aspecto muito específico da última ditadura argentina, vinculado a eventos ocorridos na província de Córdoba. Mas, as confissões de Videla deram novos contornos a um livro que passará a ser histórico. A última visita do jornalista à prisão foi em 1 de abril passado. No encontro, Reato informou ao ex-ditador os detalhes da obra. A reação de Videla, segundo ele, não foi muito boa.
— Eu lhe disse que esperava isso e que ele só ficaria feliz se um amigo seu escrevesse sua história — disse o jornalista.
‘Deus nunca soltou a minha mão’
Nas entrevistas com Reato, o ex-ditador reconheceu que seu governo provocou o desaparecimento de presos políticos. “Para evitar que a sociedade percebesse. Era necessário eliminar um conjunto grande de pessoas que não podiam ser levadas à Justiça nem fuziladas”, explicou Videla.
Segundo o ex-ditador, atualmente julgado pela implantação de um plano sistemático de roubo de bebês nascidos em centros clandestinos de torturas, “cada desaparecimento pode ser entendido como o acobertamento, a dissimulação de uma morte”.
Nas várias conversas ao longo dos últimos seis meses, Videla justificou o uso da tortura e destacou a influência da chamada “Doutrina Francesa na luta contra guerrilhas” em seu governo. Ele falou sobre os centros clandestinos de tortura e admitiu que os militares tinham quatro passos básicos a serem seguidos no processo de eliminação de opositores: detenção; prisão em centros secretos, onde eram torturados para conseguir informações; execução; e desaparecimento.
Videla negou a existência de listas com o nome dos desaparecidos, mas assegurou que podem existir registros “parciais e bagunçados”. “Nosso objetivo era disciplinar uma sociedade anárquica. Quanto ao peronismo, sair de uma visão populista, demagógica. Em relação à economia, caminhar para uma economia de mercado, liberal”, disse o ex-ditador. A frieza causou impacto no entrevistador: “Deus sabe o que faz, porque o faz e para quê. Aceito a vontade de Deus e acredito que Deus nunca soltou a minha mão”.
O lançamento do livro provocou algumas reações ontem na Argentina. A presidente das Avós da Praça de Maio, Estela de Carloto, repudiou a total ausência de arrependimento por parte de Videla.
— Que falta de humanidade! Longe de se arrepender, ele parece estar orgulhoso do que fez — lamentou.


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