Rio -  Um ano e seis meses. Este é o tempo de atraso da inauguração do Hospital da Mãe, em Mesquita. A unidade deveria estar funcionando desde outubro de 2010, como prometeu o governador Sérgio Cabral em agosto daquele ano. Se tivesse sido inaugurado na data prevista, já teria atendido 36 mil mulheres moradoras de vários municípios da Baixada e realizado 6.912 partos até hoje.
Jurema e a família moram bem em frente ao hospital, em Mesquita, que está trancado | Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia
Jurema e a família moram bem em frente ao hospital, em Mesquita, que está trancado | Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia
“Vamos inaugurar, agora em outubro, o Hospital da Mãe, que será de baixa complexidade, para partos mais frequentes”, disse Cabral à época, em visita ao Hospital da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti.
Essa não foi a única promessa feita pelo Estado. Em maio de 2011, o terreno onde o hospital ainda estava sendo construído recebeu outra visita: do secretário de Estado de Saúde, Sérgio Côrtes. Na época, a Prefeitura de Mesquita divulgou que a inauguração da unidade estava prevista para o mês de julho seguinte, o que, de novo, não ocorreu.
EQUIPADA E TRANCADA
Sete meses depois, em entrevista à imprensa, o secretário municipal de Saúde de Mesquita, Alexandre Olivares, assegurou que a unidade seria inaugurada dia 8 de março deste ano. Mas a maternidade, que está toda equipada, continua fechada.
Gisele também é vizinha do hospital, mas teve a filha em Nilópolis | Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia
Gisele também é vizinha do hospital, mas teve a filha em Nilópolis | Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia
Enquanto isso, gestantes que moram em frente ao Hospital da Mãe precisam se deslocar a outros municípios para terem seus bebês, como Jurema de Jesus, 35 anos. Quando a maternidade estava sendo construída, ela engravidou de Cecília, hoje com 1 ano e 11 meses. A bebê nasceu sem que a unidade ficasse pronta. “Aí engravidei da Julie, que tem 9 meses. Achei que daria para fazer o parto no hospital, mas ele não foi inaugurado. Fiz o parto em Belford Roxo”, contou.
Já Gisele Thomáz, 25, mãe de Laura, 3 meses, foi até o Hospital Melchiades Calazans, em Nilópolis, para dar à luz. “Foi um desespero, não queriam me internar por falta de vaga. Mas a bolsa estourou e tiveram que fazer meu parto”, contou.
Sem solução
A Secretaria Estadual de Saúde informou que a unidade “aguarda o trâmite de implantação das OSs (Organizações Sociais)”, e que o edital de convocação será publicado hoje no Diário Oficial. “A unidade poderá ser inaugurada no final do primeiro semestre de 2012”, afirma. Já a Prefeitura de Mesquita diz que “não tem qualquer gerência sobre o hospital”.
Peregrinação por três outros hospitais
Por falta da maternidade, Rayane Silva Menezes, 21 anos, peregrinou por três horas e três hospitais até conseguir ser internada para ter seu bebê, Rhyan Lucas, 19 dias. E mais: por pouco, ela, que mora em condomínio em frente ao Hospital da Mãe, não deu à luz no carro de parentes do vizinho. “Fiz o pré-natal num posto de saúde. A médica achava que ia dar tempo de eu ter meu filho no Hospital da Mãe, mas não inaugurou. É muito tempo de espera”, lamentou Rayane.
Ela começou a sentir as dores do parto durante a madrugada. Procurou um hospital particular conveniado ao SUS em Belford Roxo, mas não havia vaga. De lá, foi para o Hospital da Mulher em Vilar dos Teles. Mas a unidade só atende gravidez de risco. “Eles me mandaram pra casa. Quando estava voltando para o carro, a bolsa estourou. Aí foram obrigados a me atender”.
De lá, Rayane foi encaminhada de ambulância à Associação de Caridade Hospital de Meriti, onde deu à luz. “Pensei em desistir e ter meu filho em casa. Se o hospital estivesse funcionando como prometeram, não teria passado por isso”, lamentou a jovem.