sexta-feira, 15 de junho de 2012

ENGARRAFAMENTO NO MAR DO RIO

Navios fazem fila no mar e mudam paisagem da orla da Zona Sul

O engarrafamento marítimo deve-se sobretudo à descoberta de novos campos de óleo e gás na Bacia de Santos

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Na Pedra do Arpoador, um carioca observa de binóculo os navios que esperam uma vaga no cais: cerca de dez mil embarcações devem atracar este ano no Porto, segundo estimativa da Companhia Docas
Foto: Paulo Nicolella / O Globo
Na Pedra do Arpoador, um carioca observa de binóculo os navios que esperam uma vaga no cais: cerca de dez mil embarcações devem atracar este ano no Porto, segundo estimativa da Companhia Docas Paulo Nicolella / O Globo
RIO - Uma rotineira fila de navios vem tirando a supremacia das Ilhas Cagarras na paisagem da orla da Zona Sul carioca. Na manhã de quinta-feira, pelo menos 12 embarcações de grande porte, além de uma dezena de barcos menores de passeio e da Marinha, se alinhavam do Leme até Ipanema, em pleno mar aberto. O engarrafamento marítimo deve-se sobretudo à descoberta de novos campos de óleo e gás na Bacia de Santos, o que levou a Petrobras a montar, no Porto do Rio, uma base para os navios de suprimento para as suas plataformas. Sem vagas suficientes para atracar no Porto, cargueiros ficam esperando para descarregar, fundeados fora da Baía de Guanabara. Como O GLOBO mostrou em 25 de março, nos últimos três anos o Porto registrou um aumento de 146% no movimento de navios, de acordo com a Companhia Docas.
Outro motivo, segundo o presidente do Sindicato dos Operadores Marítimos do Rio (Sindoperj), Roberto Bomgiovanni, são os custos com os quais os navios precisam arcar nas áreas de fundeio da Baía de Guanabara, enquanto aguardam a liberação de vagas no cais: convocação de autoridades para realizar os procedimentos de alfândega, nomeação de agente marítimo, despesas com lanchas, vigias portuários e pagamento de uso do canal de acesso.
— É mais barato aguardar do lado de fora por um berço de atracação no Porto. Também há navios que ficam no litoral à espera de serem usados — diz Bomgiovanni.
Aproximadamente 25 navios atracam diariamente no Porto do Rio. E a tendência é de aumento. Em 2009, a Companhia Docas registrou 1.568 atracações no Porto; em 2010, 2.374; e, no ano passado, 3.861. Para 2012, a previsão é de um salto ainda maior: Docas estima chegar ao fim do ano com registro de passagem de dez mil navios. Só em janeiro, 405 embarcações aportaram na cidade.
Especialistas do setor acreditam que a tendência para os próximos anos é de um aumento cada vez maior do fluxo de navios para a cidade e, consequentemente, filas cada vez mais longas. Para Sílvio Carvalho, vice-presidente do Sindicato de Transportes de Carga (Sindcarga), o crescimento do setor deve-se em parte à presença da Petrobras, que decidiu estabelecer uma base do pré-sal no Rio. Dados da Companhia Docas comprovam que a maior parte das embarcações que chegam ao Rio está ligada ao setor petroleiro: 45% são barcos de apoio a plataformas (supply boats) e 14%, petroleiros. Do restante, 28% carregam contêineres; 5% são de passageiros; 3%, cargueiros; e outros 5% são tanqueiros, graneleiros e porta-automóveis (roll-on, roll-off).
Um terceiro motivo que tem atraído mais navios para a cidade foi o fim da guerra fiscal dos portos com a aprovação pelo Senado, em abril, da resolução 72, que unifica em 4% a alíquota do ICMS cobrado nas operações interestaduais com produtos importados. Carvalho explica que muitos navios de carga que antes atracavam em outros estados, atraídos por incentivos fiscais, voltaram a buscar o Rio, com grande mercado consumidor.
Para melhorar a recepção de navios no Porto do Rio, existem diversos projetos e obras em andamento. A concessionária Multiterminais tem projetos para os próximos dois anos que preveem a expansão do cais e a construção de um edifício para veículos importados orçados inicialmente em R$ 500 milhões. Já a concessionária Libras pretende estender o berço de atracação dos atuais 545 metros para 665, além de realizar obras de ampliação e modernização do armazém de importação, um projeto de R$ 300 milhões com previsão de término em 2014.
Segundo a Docas, o governo federal também tem feito obras para melhorar a infraestrutura portuária. No ano passado, a Secretaria de Portos concluiu a primeira fase de dragagem para aumentar a profundidade na Baía, o que possibilitou a atracação de navios maiores, em obras que custaram R$ 138,6 milhões. Para a segunda fase do projeto, estão previstos mais R$ 95 milhões. A expectativa é que a licitação seja feita até o fim do ano. Atualmente, de acordo com Docas, está em fase de licitação um projeto para reforçar o cais da Gamboa, que tem 102 anos e não foi projetado para atender à atual demanda do Porto.

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