Ele acha (muito) dinheiro no lixo
Há doze anos, o paulista Wilson Quintella Filho fundou a Estre, para explorar aterros sanitários. Hoje a empresa fatura mais de 1 bilhão de reais
Andréa Licht
Veja Edição Especial Sustentabilidade 2011
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A principal atividade da Estre é a gestão de nove aterros sanitários em diversas regiões do Brasil, nos quais processa 40 000 toneladas de resíduos por dia - quase 25% do total do lixo urbano brasileiro. Fora do país, comanda um aterro em Buenos Aires, na Argentina, e outro em Bogotá, na Colômbia. De cada um, Quintella conhece todos os detalhes e cita números de cabeça. Os aterros representam atualmente 85% do faturamento da empresa, proporção que ele ambiciona mudar. "Em dez anos, queremos ser uma empresa de soluções ambientais, e não apenas a dona de 100 aterros", diz. Enquanto isso não acontece, a transformação do lixo continua sendo sua maior fonte de receita e de investimentos.
No aterro de Paulínia, em São Paulo, o primeiro e o maior de todos na Estre, encontra-se em fase de teste a fenomenal Tiranossauro, máquina importada da Finlândia ao custo de 50 milhões de reais da qual só existem cinquenta em operação no mundo, que tritura e faz triagem automática do lixo, encaminhando os diferentes conjuntos para fins predeterminados. O lixo seco, em flocos ou fardos, em breve será vendido como combustível para alimentar fornos e caldeiras. O biogás, que resulta da decomposição do lixo do aterro, pode se transformar em energia. Até o potencial do bagaço da cana misturado ao lixo seco está sendo testado pela equipe de inovação da Estre. "Quintella foi um visionário ao tratar o lixo com a lógica do mercado, valorizando o resíduo", diz o consultor ambiental Walter Plácido.
Num encontro promovido em novembro pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento no Haiti, com a participação de organizações não governamentais, Quintella teve oportunidade de conhecer o ex-presidente americano Bill Clinton, da Fundação Clinton (veja a reportagem "Ensinando o planeta a limpar e a aproveitar"), e constatou, com orgulho, que ele sabia da história da Estre. Seguiu-se a troca de amabilidades que está virando padrão entre americanos e brasileiros. "Você é o cara", parabenizou Clinton. "Eu não. Você é que ainda é o cara", devolveu Quintella. Desde que voltou do Haiti, o empresário se empenha em montar um projeto que solucione o problema do lixo nas ruas onde acampam mais de 1 milhão de haitianos desde o terremoto de 2010.
Quintella passa boa parte do tempo viajando, ou no jatinho da Estre, ou em voos comerciais nos percursos de longa distância, como a recente visita à Arábia Saudita, onde empresários do setor estão interessados em fazer parceria. "O momento hoje é ainda mais importante do que há doze anos, quando tudo começou", diz, referindo-se ao conjunto de circunstâncias que favorecem seu negócio. Primeiro, o volume crescente de lixo - no ano passado, o aumento foi de 6,8% no Brasil. Segundo, a onipresença do tema nas discussões internacionais.
E, mais decisiva ainda, a regulamentação dos resíduos sólidos recém-sancionada no Brasil, que exige que municípios e indústrias deem destino adequado aos 42% de lixo que ainda não são tratados. Até 2014, todos os lixões serão desativados e os aterros controlados precisarão tratar o chorume e o metano (líquido e gás produzidos na decomposição do lixo). Em prazo ainda menor, até o fim de 2012, os municípios que não apresentarem plano de tratamento dos resíduos sólidos sofrerão corte de verbas federais. O mundo de Quintella não para de se expandir.
OS NÚMEROS DA ESTRE
Lixo processado - 14 milhões de toneladas/ano (cerca de 25% do total coletado nas cidades do Brasil)
Faturamento - 1,2 bilhão de reais
Funcionários - 5 000
Aterros sanitários - 9 no Brasil, 1 na Argentina e 1 na Colômbia
Áreas de atuação - coleta e tratamento de lixo urbano e industrial, gestão de passivos ambientais, recuperação de solos, geração de energia e consultoria ambiental.
DIA 24/06 LIMPEZA DO RIO CORRENTES EM PAU GRANDE PARTICIPE.
É importante DESENVOLVER pesquisas permitindo a reciclagem de 100% do lixo produzido. A grosso modo comenta-se que cerca de 50% do lixo pode ser reciclado, mas se separarmos restos de alimento (e assemelhados) esse percentual vai subir para quase 100% . Resíduos que são hoje considerados rejeito (plásticos de embalagens de biscoito metalizados, por exemplo) podem ser triturados para formarem uma torta para fabricação de tijolos e blocos de concreto.
ResponderExcluirOs aterros são uma tecnologia atrasada, mas de qualquer forma significam um avanço em relação a um lixão.
Newton Almeida MEIO AMBIENTE RIO DE JANEIRO