quarta-feira, 13 de junho de 2012

COMEÇA HOJE A RIO+20


Rio+20 e a mudança de paradigmas

Conferência não criará fórmulas mágicas, mas pode indicar novos caminhos

EDITORIAL
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O secretário-geral da Rio+20, o chinês Sha Zukang, até parece um brasileiro falando: “Se não terminarmos as negociações esta semana, que fique para a próxima. Espero que isso não aconteça, mas, baseado em nosso histórico, sempre fica tudo para o último minuto.” Referia-se à dificuldade de consenso sobre o documento de trabalho da Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, que hoje se inicia com eventos em vários pontos da cidade.
Desde 1972, quando a ONU realizou a primeira Conferência sobre o Desenvolvimento e o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, tem sido persistente, mas penoso, o esforço para adotar novos modelos que permitam conciliar crescimento econômico com redução da poluição, da pobreza e de desigualdades sociais, menor degradação ambiental e promoção de fontes mais limpas de energia. Há 20 anos, a Rio 92 — hoje considerada um marco — também foi precedida de pessimismo.
O desafio da Rio+20 é tão colossal quanto o dos pioneiros dessa busca de maior qualidade de vida com responsabilidade social, econômica e ambiental. Ou maior. A conferência tentará estabelecer metas para o desenvolvimento sustentável, o que se dá com a conservação dos recursos naturais, garantindo assim um planeta viável para as futuras gerações. Vai além da questão do clima.
Nas palavras de Marcos de Azambuja, negociador brasileiro na Rio 92, trata-se de “uma revisão de toda a civilização e sua maneira de se apropriar dos recursos naturais e de promover o crescimento.” Ele acrescenta: “É uma reavaliação da totalidade do comportamento humano.” Isto parece vago e ambicioso demais? Talvez. Mesmo o maior otimista não deve esperar que, no dia 22, a conferência dê respostas para questões tão intrincadas como a mudança mundial dos padrões de produção e de consumo. Para a maioria dos mortais, as autoridades mundiais e os encontros da ONU parecem ir a passos de tartaruga, enquanto catástrofes como o desmatamento, o aquecimento global e o derretimento das geleiras, para citar apenas algumas, andam em velocidade supersônica.
O que se espera da Rio+20 é que ela possa sugerir rumos, promover consensos e estimular medidas na direção da mudança de paradigmas. Especialistas sugerem o aumento da taxação sobre o consumo de produtos não-sustentáveis, como combustíveis fósseis, para viabilizar produtos alternativos, menos poluentes; e o apoio, mesmo via subsídios, a sistemas de produção que consumam menos recursos naturais.
Isto não se fará com facilidade. Experiente, o embaixador Azambuja não vê disposição dos governos para alterar as técnicas de produção e consumo. “Tenho dúvidas que os países estejam interessados em fazer sacrifícios”, diz. Seja como for, houve grandes progressos nos últimos 20 anos. A mortalidade infantil caiu e a expectativa de vida subiu. No Brasil, o número de mortes entre bebês diminuiu em mais de 60%. O ritmo do desmatamento se reduziu no Brasil e no mundo, embora ainda seja preocupante. Mas a emissão de gás carbônico cresceu muito.
Como há 20 anos, o Rio se torna nesta e na próxima semana o centro de questões vitais que já não são do futuro, mas do presente. Que, como na Rio 92, a cidade inspire e encoraje os envolvidos na grande conferência.

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