sexta-feira, 1 de junho de 2012

ASFALTO FRACO.

Ruas recentemente asfaltadas voltam a ter fresagem e recapeamento, mesmo após pintura

Lançado em 2010 ao custo de R$ 476,3 milhões, programa Asfalto Liso tem regredido em vários pontos

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NOS MUNICIPIOS DO INTERIOR E DA BAIXADA AINDA É PIOR PORQUE MUITAS RUAS SÃO DE TERRA.
RIO - Lançado em 2010 com a meta de deixar impecável, por R$ 476,3 milhões, a pavimentação de mais de 800km de 187 ruas até julho deste ano, o programa Asfalto Liso tem regredido em vários pontos: após o surgimento de buracos, ondulações, rachaduras e outros defeitos, dezenas de trechos estão passando novamente por fresagem e recapeamento, depois de prontos e até sinalizados. Um problema que, segundo especialistas, indica que houve falha na execução do serviço.
Um dos casos mais recentes desse serviço executado em dobro foi registrado esta semana pelo GLOBO na Estrada dos Bandeirantes, onde moradores de Vargem Grande voltaram a conviver com quebra-quebra e poeira, cerca de dois meses depois de a rua ter virado um perfeito tapete. A Secretaria municipal de Obras diz que, em Vargem Grande, a Estrada dos Bandeirantes ainda não recebeu Asfalto Liso. Explicação que deixa ainda mais perplexos moradores e comerciantes. E a via ainda consta de uma lista inicial do programa, divulgada em 24 de agosto do ano passado no site da secretaria.
— Eles estiveram aqui há mais ou menos dois meses, mas ficou tudo esburacado e alagado com a chuva, e tiveram que refazer. O movimento aqui na loja caiu muito, pois tem muita poeira e está difícil o acesso — reclama o atendente Roberto Almeira, que trabalha numa loja de materiais de construção na Estrada dos Bandeirantes, na altura do número 13.841.
No Recreio, os moradores também reclamam que a Avenida Glaucio Gil, totalmente reformada ano passado, voltou a ser recapeada. Mas os exemplos não se restringem à Zona Oeste. Repórteres do GLOBO percorreram pelo menos 20 ruas que receberam equipes do Asfalto Liso nos últimos dois anos e constataram que em pelo 12 já houve necessidade de nova fresagem ou simples remendos. Em pelo menos um endereço que foi divulgado como contemplado pelo programa — a Rua Barão do Bom Retiro, no Grajaú — os motoristas não veem nenhum sinal de melhoria no pavimento em boa parte da via. Segundo a prefeitura, a obra ali só foi executada no trecho entre as ruas José do Patrocínio e Teodoro da Silva.
Quem circula pela região de Méier, Engenho Novo e Riachuelo e Sampaio, tem convivido nos últimos meses com operários da prefeitura raspando a fundo algumas das principais vias da região. Na Rua Hemengarda, no Méier, uma nova fresagem foi feita semana passada. No último fim de semana, foi a vez da Avenida Marechal Rondon, que teve parte da pista refeita na altura do número 2.530. Essas duas vias, segundo informações do site da Secretaria de Obras, receberam o programa Asfalto Liso entre agosto e novembro de 2011. Também foram ou ainda estão sendo fresados trechos da Avenida 24 de Maio, na altura do bairro do Riachuelo, e no Engenho Novo. Os dois locais também receberam novo asfaltamento ano passado, lembram motoristas.
— Aqui na região está todo mundo perguntando por que quebraram tudo de novo — reclama a aposentada Maria Aparecida Lemos, moradora do Méier.
Prefeitura diz que não gasta com reparos
Na Tijuca, a Rua Barão de Mesquita, principalmente o trecho entre as Ruas Gonzaga Bastos e Amaral, tem marcas de fresagem recente. Na Zona Sul, o cenário não é diferente: a Rua Conde de Baependi, no Flamengo, por exemplo, estava sendo fresada anteontem — ontem o reparo já estavo concluído. Já no Centro, motoristas e motociclistas já perderam as contas das vezes em que caíram num buraco na lateral esquerda da Avenida Presidente Vargas, na altura da Cidade Nova, que abriu e foi fechado pela prefeitura. A via também já recebeu o Asfalto Liso.
A Secretaria de Obras alega que o programa “registra de maneira pontual inconformidades de produção e na aplicação de mistura asfáltica”. Na avaliação do órgão, na maioria dos casos, os problemas são causados pelas concessionárias de serviços, ou por “intercorrências em galerias de águas pluviais”. O custo de refazer o trabalho, garante a secretaria, não é da prefeitura, mas do responsável pelo defeito: a empresa que executou a obra ou a concessionária que furou o piso.
O GLOBO também encontrou remendos ou buracos em diversos pontos que estiveram na rota do Asfalto Liso nos últimos 12 meses: entre elas, as ruas Hadock Lobo e Conde de Bonfim, na Tijuca; o Boulevard 28 de Setembro, e a Rua Teodoro da Silva, em Vila Isabel; e as ruas Visconde de Pirajá, em Ipanema, e Figueiredo de Magalhães, em Copacabana. A Figueiredo Magalhães, nos cruzamentos com a Avenida Nossa Senhora de Copacabana e com a Rua Barata Ribeiro, tem dois enormes remendos pretos, que contrastam com as faixas amareladas que marcam os cruzamentos. Na Rua Dias Ferreira, no Leblon, moradores reclamam que já há um buraco no asfalto que acaba de ser colocado.
Outro problema, já mostrado pelo GLOBO, é que, em vias já prontas, operários estão quebrando parte do asfalto para instalar canaletas de drenagem de água da chuva. A medida foi considerada um desperdício por especialistas. Segundo o engenheiro Paulo Araújo, ex-presidente do Instituto Estadual de Arquitetura e Engenharia, o asfalto de boa qualidade e de boa espessura dura no mínimo cinco anos. Para ele, a nova fresagem em tão pouco tempo é sinal de falta de fiscalização do serviço:
— A fresagem é feita para a retirada da capa asfáltica antiga deteriorada para que, em cima da base, seja reposta a nova capa de asfalto. O fiscal só deve permitir passar para a etapa seguinte, de colocar o pavimento, se tudo estiver em perfeito estado — explicou, lembrando que o serviços refeitos acarretam perda de tempo e de materiais.
O cronograma de obras do programa Asfalto Liso está previsto para ser concluído em julho. O custo total chega a R$ 476,3 milhões, gastos em 869km de recuperação de vias. A previsão para este ano é que 55 ruas e avenidas sejam recapeadas.
Para o engenheiro Saul Birman, a massa asfáltica aplicada nas ruas não está sendo suficientemente testada.
— Não se trata de má qualidade do cimento asfáltico, que é produzido pela Petrobras de acordo com as especificações da ANP. Mas pode ser um defeito decorrente não da qualidade, mas da aplicação desse cimento, que é misturado a produtos como borrachas, pedras e polímeros para formar o que as pessoas chamam de asfalto — diz o engenheiro, que faz parte da comissão de asfalto do Instituto Brasileiro de Petróleo.
A Secretaria de Obras informou que “trabalha com a mistura mais adequada à condição de clima e ao tráfego do Rio, do tipo SMA (Stone Matriz Asphalt), com maior resistência a deformações e desgastes e melhor aderência”.

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