Comprado pela prefeitura, Teatro Ipanema reabre as portas
Para marcar data, convidados especiais se apresentam em três noites na casa
RIO - No fundo do quintal da casa de Dona Mocinha havia um barracão.
Montado ao lado de uma pequena horta, ele se transformava todos os dias
em palco para o seu filho, o ator Rubens Corrêa (1931-1996), que levava
para lá sua turma do Tablado. Ali, entre o fim dos anos 1950 e o começo
dos 1960, Rubens plantava as sementes de uma raiz teatral que, em 1968,
deu origem ao Teatro Ipanema — fundado por ele, Ivan de Albuquerque
(1932-2001) e Leyla Ribeiro. Foco de resistência — cruzou a ditadura
militar, a especulação imobiliária, os revezes da economia cultural
brasileira — e de experimentação artística — inúmeros autores e atores
se lançaram e se consagraram por lá —, o Ipanema volta à cena hoje
sonhando reacender a magia que contaminou gerações entre os anos 1960 e
80.
Leituras, vídeos e música
Comprado pela prefeitura no começo do ano, reformado e com um novo projeto de curadoria artística aprovado, que começa no dia 2 de julho com a peça "Dentro", o novo Ipanema reabre as portas com a série de shows "Três noites a caminho do mar", criada e dirigida por Hamilton Vaz Pereira.
De segunda a quarta-feira, a programação, com entrada franca, reúne uma série de convidados especiais para celebrar a história do teatro, de seus fundadores e das criações memoráveis que passaram por lá, num roteiro que inclui leituras de peças e cartas, exibição de vídeos, depoimentos, música e, sobretudo, festa.
— Criei um roteiro que explora o lado mais festivo e teatral possível — diz Hamilton. — Será uma mistura de atos que irão relembrar momentos históricos. "Hoje é dia de rock" (peça de José Vicente montada em 1971 e que ficou três anos em cartaz no Ipanema) era uma afirmação de vida em meio àquela terrível ditadura. Rubens e Ivan inspiraram toda a minha geração a viver de teatro. E, o principal, entendi com eles que teatro é bom quando cada um é autor da sua criação. Foi o Ipanema que possibilitou a existência do Asdrúbal Trouxe o Trombone.
Dirigido por Hamilton, o Asdrúbal montou por lá peças como "Trate-me leão" (1978), "Aquela coisa toda" (1980) e "A farra da terra" (1983).
— Eles abriram as portas para a gente, como faziam para muitos da nova geração. Eles tinham o dom da hospitalidade e abrigaram a arte de toda aquela rapaziada.
Batizada de "Corpo dourado", esta noite vai ter como um dos pontos altos a presença de Fernanda Montenegro, que irá ler uma carta escrita por Ivan de Albuquerque a Rubens Corrêa pouco tempo antes da inauguração do teatro.
— É um texto que contém toda a emoção e a ansiedade de um homem. Ivan estava na Europa e louco de vontade de voltar e começar a trabalhar no teatro — conta Hamilton.
‘O assalto’ inaugurou teatro
Logo depois, o diretor Aderbal Freire-Filho e o ator Matheus Nachtergaele leem fragmentos da peça "O assalto", de José Vicente (1945-2007), texto que inaugurou o Ipanema, com uma montagem dirigida por Fauzi Arap. Em seguida, José Wilker e Otávio Müller conduzem a leitura de um dos marcos da história do Ipanema, "O arquiteto e o imperador da Assíria", de Fernando Arrabal, que estreou em 1970 com Rubens Corrêa e Wilker em cena, dirigidos por Ivan de Albuquerque. Wilker recorda que pisou pela primeira vez no Ipanema antes de o teatro ser aberto, numa assembleia teatral contra a ditadura realizada em meios às obras para a construção da sala.
— Anos depois o Rubens me encontrou num café e me fez um convite. Eu estava desencantado com o teatro, disse arrogantemente que não tinha mais paciência, mas aquele texto me fascinou — recorda. — Eu tinha uma relação muito prática com o teatro, uma coisa política, partidária, mas o Rubens me revelou um mundo que eu desconhecia. A convivência com ele representa a minha descoberta do teatro. Seu olhar era muito carinhoso e curioso com os atores. Ele me dava liberdade para trabalhar, me desafiar e me descobrir.
Leituras, vídeos e música
Comprado pela prefeitura no começo do ano, reformado e com um novo projeto de curadoria artística aprovado, que começa no dia 2 de julho com a peça "Dentro", o novo Ipanema reabre as portas com a série de shows "Três noites a caminho do mar", criada e dirigida por Hamilton Vaz Pereira.
De segunda a quarta-feira, a programação, com entrada franca, reúne uma série de convidados especiais para celebrar a história do teatro, de seus fundadores e das criações memoráveis que passaram por lá, num roteiro que inclui leituras de peças e cartas, exibição de vídeos, depoimentos, música e, sobretudo, festa.
— Criei um roteiro que explora o lado mais festivo e teatral possível — diz Hamilton. — Será uma mistura de atos que irão relembrar momentos históricos. "Hoje é dia de rock" (peça de José Vicente montada em 1971 e que ficou três anos em cartaz no Ipanema) era uma afirmação de vida em meio àquela terrível ditadura. Rubens e Ivan inspiraram toda a minha geração a viver de teatro. E, o principal, entendi com eles que teatro é bom quando cada um é autor da sua criação. Foi o Ipanema que possibilitou a existência do Asdrúbal Trouxe o Trombone.
Dirigido por Hamilton, o Asdrúbal montou por lá peças como "Trate-me leão" (1978), "Aquela coisa toda" (1980) e "A farra da terra" (1983).
— Eles abriram as portas para a gente, como faziam para muitos da nova geração. Eles tinham o dom da hospitalidade e abrigaram a arte de toda aquela rapaziada.
Batizada de "Corpo dourado", esta noite vai ter como um dos pontos altos a presença de Fernanda Montenegro, que irá ler uma carta escrita por Ivan de Albuquerque a Rubens Corrêa pouco tempo antes da inauguração do teatro.
— É um texto que contém toda a emoção e a ansiedade de um homem. Ivan estava na Europa e louco de vontade de voltar e começar a trabalhar no teatro — conta Hamilton.
‘O assalto’ inaugurou teatro
Logo depois, o diretor Aderbal Freire-Filho e o ator Matheus Nachtergaele leem fragmentos da peça "O assalto", de José Vicente (1945-2007), texto que inaugurou o Ipanema, com uma montagem dirigida por Fauzi Arap. Em seguida, José Wilker e Otávio Müller conduzem a leitura de um dos marcos da história do Ipanema, "O arquiteto e o imperador da Assíria", de Fernando Arrabal, que estreou em 1970 com Rubens Corrêa e Wilker em cena, dirigidos por Ivan de Albuquerque. Wilker recorda que pisou pela primeira vez no Ipanema antes de o teatro ser aberto, numa assembleia teatral contra a ditadura realizada em meios às obras para a construção da sala.
— Anos depois o Rubens me encontrou num café e me fez um convite. Eu estava desencantado com o teatro, disse arrogantemente que não tinha mais paciência, mas aquele texto me fascinou — recorda. — Eu tinha uma relação muito prática com o teatro, uma coisa política, partidária, mas o Rubens me revelou um mundo que eu desconhecia. A convivência com ele representa a minha descoberta do teatro. Seu olhar era muito carinhoso e curioso com os atores. Ele me dava liberdade para trabalhar, me desafiar e me descobrir.
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